Desprevenida, oiço os sons fúnebres da música há tanto conhecida - lembro-me e mergulho repentinamente.
Desço um pouco mais, mais um metro, outro e dois mais. Os graves vão soando mais abafados, a massa de água supera a pressão da música nos tímpanos, mas em nada mais - o coração bate pelo compasso demarcado e o consciente palpita em memórias emergentes. Chego ao fundo, sento-me com a pele de encontro aos azulejos, de olhos há muito fechados e de braços a envolverem os joelhos contra o peito. O ambiente tão uterino, a posição fetal e a minha solitária pulsação dão-me uma calma há muito ausente - recuso voltar, mantenho-me lá. O toque quente da água acolhe-me em carícias de outrora, beija-me todo o corpo, conforta-me a alma, abraça-me a mente – não cedo à carência de ar, a alternativa falta de calor é mais letal. Um abrupto estilhaço dum saber já interiorizado cruza os pensamentos que perdem celeridade – a piscina não tinha a água aquecida, eu é que estava fria. Terminante, irrevogável, mortalmente fria.
Desprevenida, abro os olhos e deixo entrar um pouco de água por entre os lábios vermelhos - quebra-se algo e dou um impulso repentino para voltar à superfície.
Subo o quarteto de metros. À sinfonia que ainda assola a memória vai-se juntando a sincronia da gravação – compasso e memórias continuam presentes. A ar invade os pulmões que haviam esgotado o seu oxigénio, sem dar tempo para reconsiderar o regresso, perturbo solitária a superfície lisa da água com movimentos sôfregos – aproximo-me da borda, ergo-me sobre os braços para longe da água.
Subo um pouco mais. Os graves agudizam-se num culminante final – o coração continua a trautear a letra conhecida e num inconsciente de turvas águas imergem as memórias quentes. Ardilosa, confortável, cruelmente quentes.
By Sophia
“That voice which calls to me and speaks my name
And do I dream again for now I find
The Phantom of the Opera is there
Inside my mind”
Música: The Phantom of the Opera – Andrew Lloyd Webber (compositor)
http://youtube.com/watch?v=Ej1zMxbhOO0
Newton by William Blake
Millions saw the apple fall,
but Newton was the one who asked why.
Bernard Baruch
Foi essa capacidade de perguntar que o levou a ele e a muitos a não cair no esquecimento.
Independentemente de nos ocuparmos das grandes questões da física ou de assuntos da nossa minúscula esfera pessoal, nunca se chega a uma resposta sem se fazer a pergunta, nunca se consegue uma solução se não identificarmos o problema, nunca se organiza algo se não houvesse caos antes.
Perguntarmo-nos porque tudo a à nossa volta caí não nos garante que cheguemos longe, mas se não o fizermos é garantido que nada descobrimos.
By Sophia
"Oh Gravity is working against me
And gravity wants to bring me down
Oh twice as much aint twice as good
And can't sustain like a one half could
It's wanting more
That's gonna send me to my knees
(...) Oh gravity, stay the hell away from me
And gravity has taken better men than me"
música: Gravity - John Mayer
Hoje senti o teu toque, não sabendo se esta sensação se repetirá amanhã.
Na verdade nem sequer foi por muito – foi um toque fugaz, instantâneo, fugidio.
Foi um único e solitário afagar das tuas mãos na base das minhas costas, um aperto leve, um apoio breve, um pedido implícito para eu me desviar um pouco sem me afastar. Não te vi aproximar - estava desprevenida, distraída, ausente - mas cada porção da minha pele se arrepiou no instante em que senti a pressão dos teus dedos. O roçar da tua pele quente na minha, que sempre dizias macia, inebriou-me o ser, toldou-me a mente, provocou-me o corpo. Perdi o controlo dos pensamentos que rolaram sozinhos num descortês emaranhado de devaneios, mas mantive o controlo das acções.
Quedaste-te assim por um só momento, mas foi o suficiente para me deixar atordoada, febril, sedenta.
Na verdade nem sequer foi intencional – foi um roçar distraído, não te apercebeste do efeito que tiveste.
Na verdade nem sequer foste tu – foi outro a tocar-me, mas foi o teu toque que senti, que recordei e que me fez sofrer.
Hoje quis sentir o teu toque, sabendo que este desejo se repetirá em muitos amanhãs.
By Sophia
" Lie awake in bed at night
And think about your life
(...) It's the perfect denial
Such a beautiful lie to believe in "
Música: Beautiful Lie - 30 Seconds to Mars
"Not everything that counts can be counted,
and not everything that can be counted counts."
(frase fixada algures nas paredes do escritório de Einstein em Princeton)
Raramente as coisas que realmente contam - aquelas que deveras importam, que nos podem tirar noites de sono ou que nos fazem ficar inquietos - podem ser contadas - quantificadas, medidas ou calculadas.
Isso todos nós sabemos. O problema é distinguir o que conta do que é dispensável e o que pode ser contado do que permanece inquantificável.
Vamos por tentativa e erro... E esperamos que não sejam necessários tantas falhas que lhes percamos a conta.
By Sophia
Música: Violin Concerto No. 3 "Straussburg" K.215, 3rd Movement - W. A. Mozart
(...)
Uma troca de sinais fica por dar-se. Os amantes comunicam só com o olhar, mas a união entre voador e base supera-a. Entre estas duas almas a sincronia era tão completa, a confiança tão forte, a entrega tão consumada que já nem disso precisavam para ele sentir o segundo exacto em que ela se lançará no ar, para ele se pendurar de cabeça para baixo e para acertar o bailado pendular do trapézio dele com a trajectória - agora derradeiramente perfeita e una - traçada por ela e pelo trapézio dela.
Ela conta os compassos e, no exacto oscilar do quartzo, larga o suporte. Vê-se outra vez num voo desamparado de corpo arqueado, mas agora dá uma cambalhota no ar – concentra-se no movimento e tenta ganhar impulso - , dá outra volta sobre si mesma – sente-se mais distante e esforça-se por controlar cada um dos músculos -, dá uma terceira – mente e corpo mal lhe respondem, mas ela endireita-se bruscamente, estendendo os braços. Os dedos dela encontram os musculosos antebraços dele, escorregando num afagar sôfrego até aos pulsos que absorvem o primeiro impacto. Ambos abraçam os punhos um do outro, os dela finos, os deles grossos, ambos enfaixados e fortes. Ela aperta-o com uma urgência quase passional, ele fá-lo com uma precisão deveras possessiva.
A pega dá-se.
Desde logo se sabe que está na eminência de se desfazer, como aconteceu com a anterior e como acontecerá com todas as que se façam posteriormente.
A pega desfaz-se.
Mais uma vez o ininterrupto ciclo – o escorregar de mãos, o impulso arriscado, o voo desamparado. Mais uma vez o apaixonado baile de voador e base, necessariamente perfeito. Mais uma vez, mais uma e outra... Até que, um dia, uma pega desleixada não se desfaça porque não se consegue dar e seja dada ao salto mortal uma irrefragável oportunidade para fazer jus ao seu nome.
By Sophia
“ the world - it won't wait for you
it's got its own things to do
(…)
To my brilliant feat
I make grown men weep
and still my eyes grow oh so cloudy
música: My Brilliant Feat – Colin Hay
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. Antiquitera (XIV) - Epílo...