“ Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Trepate a esa ternura de locos que hay en mi (...)
¡Loco él y loca yo!
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!”
(...)
Sustêm o momento um pouco mais, cientes do capricho de pouca dura, mas ainda embriagados pelo grave contrabaixo que para eles toca sem que o quarteto de cordas seja afagado pela crina do curvo arco ou pinçado pelos dedos do erecto músico. O abraço afrouxa, os corpos apaziguam-se deixando, com um involuntário suspiro de decepção, que voltem a ser dois seres. A pulsação abranda, a respiração normaliza-se, os olhos perdem o fulgor. Deixam de ser um só corpo, companheiros na dança, amantes na pista. O tango realmente acaba e sob o pavimento de tacos riscados, separam-se dois perfeitos estranhos.
Os primeiros tímidos sons do acordionista chegam dum banco de madeira que mal sustenta o volumoso músico que abraça o fole e acaricia o teclado. Os pares que se encaminham para a pista fazem ecoar a sua própria cadência no soalho, tacos de sapato contra tacos de madeira. O ciclo recomeça, contudo a dança não se repete, o par não se volta a unir, o momento passara, o tango acabara sem promessa de se seguir outro.
O tempo ficara, porém, suspenso momentos atrás, indelével no fulgor da dança. A um canto duma loja qualquer, numa outra capital do outro lado do Atlântico, dois corpos carnalmente unidos dançam num só, numa pista de tela envelhecida, num prostíbulo dos obscuros barrios do norte de Buenos Aires, sob uma luz amarelada traçada a óleo, com a eternidade para a dança e uma moldura de negreiro envernizado onde, em cada veio, ecoam as reminiscências dum tango que outrora ficou por acabar.
by Sophia
música: Balada para un loco - Astor Piazzola
(http://youtube.com/watch?v=v1iI3tqYazw&feature=related) (recitado)
(http://youtube.com/watch?v=pkJVkQOKCPw) (instrumental)
. Is it Still "The Beginnin...
. Antiquitera (XIV) - Epílo...