Hoje cheguei cedo a casa. Estava vazia, fria, sem ruído, ou sensação. Pousei os livros no sofá enquanto despia o casaco. Com um gesto quase automático peguei no comando da aparelhagem mas, desta vez, é nos CD’s que me refugio.
Dirijo-me ao quarto onde instantaneamente me ligo à Internet. Sem nada a esperar, decido-me por um consolável banho.
Vagarosamente me dispo e entro no aconchego da água quente. Deixo a água correr-me pelo pescoço até às costas. Levemente mergulhada na imensidão do espaço e numa mistura de sentidos, conheço o toque de cetim e o desinibido perfume que me percorre o corpo. Fecho os olhos e encosto a cabeça para trás. Não penso. Não sonho. Não vivo. Lá fora ouve-se algo. Escuto com atenção. A melodia é breve, calma mas intensa. Não quero saber. Não quero ouvir. Não quero. Cerro os lábios e fecho os olhos. Faço a cabeça imergir e sentir o nada.
Volto à tona e ainda mais vagarosamente levanto-me e saio da banheira procurando a toalha branca. Sim, branca. Podia ser de outra qualquer cor mas hoje é branca. Não pela inocência dos sentidos mas pela negrura da alma que, praticando luto, se tem arrastando ao longo do dia e espera agora enterrar o morto.
Na toalha seco as lágrimas e deixo o resto piedosamente escorrer pelo corpo. Volto ao quarto onde desamparada me sento na cama e onde procuro o conforto dum ventre impraticável. Encosto-me aos amigos de infância e, abraçando a almofada mais próxima deixo-me dormir um sono profundamente falso, no verdadeiro acreditar dum dia melhor.
by Aηα M.
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