Acordei sobressaltada já a noite tinha deixado de ser menina. O coração batia audivelmente, a caixa torácica arfava, os lençóis de algodão estavam remexidos, suores frios escoavam-se pelos esporos. Reparei que não respirava desde o sobressalto que me tinha tirado todo o ar dos pulmões, à força como uma pancada seca nas costas, fi-lo e senti um arrepio por toda a espinha, percorrendo cada uma das sessões da base da coluna até ao cervix.
Virei-me de lado, abracei-me, cerrei as pálpebras com força e concentrei-me em adormecer, focando a minha atenção, a minha mente, o meu ser só nesse acto, nesta tarefa, nesta acção. Permaneci estática e contraída, gelei por completo, despertei todo o corpo, fiquei em vigília, chamei uma persistente dor-de-cabeça - mal dormi.
Ao amanhecer tomei um duche demasiado longo, demasiado quente, demasiado ausente. Sei que me estou a atormentar ao tentar encher o consciente com tarefas inconscientes, sei que ainda estou sobressaltada, mas nego-o. Nego-o pois bastaria isso para não resistir a procurar no meu próprio cabelo - agora esfregado, lavado, enxaguado de forma quase obsessiva - uma réstia do reconfortante cheiro que senti naquele instante ao acordar e que me sobressaltou, o perfume dos teus dedos finos há tanto ausentes, deixado como se tivesses realmente estado deitado comigo na escuridão do quarto, a brincar com as minhas ondas de cabelo caoticamente espalhadas pela almofada. Nego-o, mas não deixo de estar sobressaltada, nem sequer de instintivamente saber que o senti, que foi tua a fragrância que ficou como despojo dum sonho - mesmo que nunca os tenha...
by Sophia
"Just hold me tight and tell me you’ll miss me
While I’m alone and blue as can be
Dream a little dream"
. Is it Still "The Beginnin...
. Antiquitera (XIV) - Epílo...