Segunda-feira, 17 de Março de 2008
Livro Ilegível

 Cada um tem o seu passado fechado em si, tal como um livro que se conhece de cor, livro de que os amigos apenas levam o título

 

Virginia Woolf

Eles não sabem nem sonham muito do que nos vai na alma, metade do que nos aflora o espírito, ou mesmo, parte do que fazemos conscientemente.  Os verdadeiros não nos pedem certezas, apontam-nos ridicularidades, não nos secam as lágrimas e, por vezes, até nos cessam o sorriso.

Porém, os amigos não são, nem devem ser, “leitores” das nossas vidas. Quantos de nós não pensou, fez ou acreditou em algo que os amigos não sabem e não queremos nós que saibam?

Um passado encerra em si muitas páginas, muitos parágrafos, um maior número ainda de pontos de interrogação e, quem dera a nós, que fosse escrito a carvão... Torna-se um livro impossível de ser lido por todos, excepto por nós próprios. Um livro ilegível. O livro ilegível.

Quando partimos restam apenas os títulos, que em jeito de saudosa despedida, eternizarão um estado de graça que é ser.

 

Diz-se que pelos títulos de se vê um livro... Então o meu seria, sem dúvida Fusão - Simetrias da Morte , porque tudo o que faço é vida, e a vida é simétrica à morte.



by Aηα M.



Obs.: A imagem é retirada do último retábulo de uma das mais conhecidas obras da pintura portuguesa quinhentista, atribuída ao pintor Nuno Gonçalves, Os Painéis de São Vicente. O livro, para além de estar nas mãos de uma figura que nos desperta a curiosidade pelo traje negro e expressão austera, é folheado no sentido contrário ao normal e os caracteres nele inscritos embora semelhantes ao hebraico, não são legíveis, o que o torna um verdadeiro fascínio da pintura. Um dia ainda me darei ao trabalho de o tentar decifrar, embora me pareça que não seja bem sucedida...


música: Say goodbye

publicado por **** às 00:00
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2 comentários:
De Sophia (do Flip Side) a 17 de Março de 2008 às 01:42
"Eles não sabem nem sonham muito do que nos vai na alma" - muitas vezes nem nós mesmos temos a certeza do que realmente nos passa pela cabeça...
Não se trata dum problema de confiança e de intimidade, simplesmente é uma necessidade nossa de manter certas coisas em privado, de silenciar os nossos mais obscuros desejos, as nossas mais vergonhosas (in)acções, os nossos mais nefastos pensamentos, as nossas secretas esperanças...

"Quando partimos restam apenas os títulos, que em jeito de saudosa despedida, eternizarão um estado de graça que é ser. " - por vezes acho que nem os títulos restam, ou então quedam-se fragmentados por uma série de pessoas, de lugares, de situações.
Deveras... não quero ser lida - por vezes té eu tenho medo de me ler a mim mesma pelas páginas que vão sendo deixadas meio vazias de letras - , mas também não quero deixar só um título...
Nem que seja por um instante só quero deixar uma pequena sinopse dispersa por alguns, algumas citações em obras maiores, um exemplar esquecido num canto poerento dum alfarrabista na baixa...

O texto está fantástico... simples e absolutamente fantástico.

Beijos


De Ana M. a 17 de Março de 2008 às 12:57
"simplesmente é uma necessidade nossa de manter certas coisas em privado"
sim, sem dúvida temos essa necessidade. Mas também temos a necessidade contrária.

"mas também não quero deixar só um título..."
Espero também deixar um pouco mais do que um título... Um sorriso, pelo menos.

Obrigada =)

bj*


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