“A refeição foi frugal, as ostras e os peixes, as aves e as variadas carnes de caça soberbamente apaladadas sendo apenas provadas, numa inventada justificação para cada momento com Freyja, a sua presença parecendo libertar-me da necessidade de alimento, a sua voz serenamente feminina e simultaneamente firme envolvendo-me num universo tão dissemelhante daquele em que sempre havia vivido, os demorados gelos e os tumultuosos mares setentrionais descritos com perícia, as imagens formando-se na minha mente como se estivesse perante a magnitude de tais cenários. Falou-me de um tempo em que a sua estirpe governava o cume do mundo, dos dias em que a primavera fugia para norte, a neve transfigurando-se na água que enchia os rios, os botões explodindo em folhas e flores num ciclo interminável de renascimento da vida, um indescritível sorriso iluminando-lhe o rosto, a sua beleza ou o vinho fazendo-me sentir um estranho ruborizar das faces, um fascínio indizível despontando em mim…
As horas entravam noite adentro, os figos e as nozes acompanhando o hidromel bebericado entre frases e descrições, o semblante subitamente carregado, os olhos marejando-se-lhe de lágrimas, a recordação de uma violenta batalha entre potestades fazendo-a irromper em soluços. O Ragnarok havia posto cobro à influência da sua família e determinado o seu exílio em terras mais meridionais. Num impulso incontido, abracei-a, o toque fazendo-a acalmar-se de imediato. Recompondo-se, limpou com um fino lenço de linho as lágrimas que pareceram gotas de ouro, certamente a luz amarelada dos archotes criando uma ilusão. Desenrolou o papiro que havia trazido. Nele, insuspeitáveis conhecimentos apareciam desenhados com geométrica precisão…”
V.A.D.
V.A.D. e Sophia em Antiquitera
Imagem: Mecanismo (www.ams.org/images/smallgears.gif)
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