Recebemos uma prendinha do nosso amigo V.A.D. que nos convidou a escrevermos um texto, com mais ou menos sentido, mais ou menos coerente, onde estivessem presentes os títulos do nossos últimos dez posts. Deixou-nos a nós a tarefa de decidir a quem caberia a tarefa e acabou por calhar à que primeiro viu o embrulho – eu.
Não digo que seja envenenada, mas pelo menos foi uma prenda muito inesperada, bastante divertida e, a cima de tudo, complicada de desembrulhar! No entanto adorei, até certo ponto fez-me sentir uma derradeira Pandora, se bem que tenha esperança que as consequências não sejam tão desastrosas como as no mito.
Aqui ficam os nossos autênticos agradecimentos e uma história um tanto aldrabada, que de autêntica só tem o tango (e, que embora não esteja de certo envenenada, não garantimos que não seja entediante):
Hoje foi um dia especial, hoje comecei de novo, hoje cravei-te um punhal no coração, bem fundo entre as costelas, enquanto te olhava nos olhos.
Entro pela porta, decidida, segura, convicta. O lugar não é novo (Ah, quantas vezes aqui vim..), nem a resolução (Ah, quantas vezes já evitei o inevitável...). Inspiro fundo uma vez para não perder a coragem, cerro os olhos por um momento, começa uma música a encher o ar, só um murmúrio de violinos. Abro os olhos. Procuro o velho rádio verdejante com o relógio verde, ele também, vejo que são exactamente três horas, mas não vejo qual a frequência na qual se começa a distinguir um insípido tango. Foco o número da perfeição e a música da sedução, mas evito os teus olhos esverdeados que me focam. Perguntas que se passa, eu respondo: acuso-te, insulto-te, ataco-te com a mais aguçadas palavras.
Enquanto o gume afiado ia penetrando lenta e profundamente nesse teu peito onde outrora repousei a cabeça, senti uma certeza fria a subir-me pela espinha, a arrepiar-me outrora só tu conseguias. Vejo que não posso abdicar de ser quem sou por ti, que o rompimento era eminente, que não havia retorno. Seguro com mais força o cabo, torcendo a lâmina, girando-a com força, sentindo prazer em sentir a tua pulsação que faz tremer o punhal.
Está quase meu amado, basta enterrar um pouco mais, uns centímetros, uns instantes, umas notas no violão. Enfrento o teu olhar e nada vejo, nada te espanta, nada te encanta, nada te fere, ficas indiferente. Quem treme agora é a minha mão que segura o punhal, é a mim que ele fere. Esvaio-me em sangue, mas recuso esvair-me em lágrimas. Deixo cair o punhal. O acordeão já se havia calado, já passava um pouco das três, já não havia nada mais a ser dito.
Saio pela porta, derrotada, magoada, agonizante. Um solitário floco de neve cai sobre a lapela do casaco e desfaz-se imediatamente numa gota de água. Eu sinto-me só e os meus olhos desfazem-se imediatamente numa torrente de lágrimas. Lá dentro deixei o punhal e tudo o que passámos. Cá fora, caiem mais alguns flocos e lágrimas que se confundem. Continuo em frente, tentando inutilmente convencer-me d’a efemeridade do eterno sentimento.
By Sophia
“¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!
¡Loco él y loca yo!”
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