“Uma abafada lufada de ar quente arrancou-a do estado de letargia que a ociosa observação das sôfregas movimentações da tripulação dum dahabeeyah que atravessava a primeira comporta do Heptaestádio - com a alvura das velas recolhida num emaranhado de cordas e roldanas - a mergulhara. Os indeléveis traços dum saudosismo inusitado das robustas embarcações que povoam os mares tempestuosos, frios, nórdicos duma primeira infância longínqua dissiparam-se no clima fervilhante do porto. Misturavam-se as gentes numa confusão de linhos, algodões e napa, hibridavam-se os cheiros de cada canto do mundo que se prendiam à pele dos transeuntes, fundiam-se todos os idiomas conhecidos mais os que eram criados ali mesmo na marginal da mais povoada cidade do mundo. Ela, num esforço inaudito para não se dispersar, procurava a figura esguia do brilhante homem letrado cujo nome – Hiparco - havia lido até à exaustão, patente num maravilhoso conjunto de prometedoras obras que a haviam acompanhado nas últimas luas. Tentava ainda a custo repudiar o sentimento de admiração que a poderia distrair da tarefa da qual havia sido incumbida, quando finalmente o viu, de olhos aéreos perscrutando a multidão.
Arranjou a túnica deixando propositadamente uma das alças escorregar-lhe pelo ombro, desnudando o início dum colo prometedoramente alvo, apertou entre os dedos finos o rolo de papiro que sabia valer mais que a sua vida, sentindo na palma a sua textura reconfortantemente rugosa, e esticou outro braço no sentido do ombro do homem cuja nuca povoada de caracóis negros a fitava, desprendendo-se do frágil gancho, numa outra lufada, uma madeixa quase da cor do sol poente e da chama que tomara o seu lugar no Farol de Alexandria...”
by Sophia
V.A.D. e Sophia em Antiquitera
Imagem: Alexandria
(http://cache01.stormap.sapo.pt/fotostore02/fotos//15/00/8d/1830631_BmZYl.bmp)
. Is it Still "The Beginnin...
. Antiquitera (XIV) - Epílo...