Como seria se pudéssemos falar com os mortos?
Que perguntas lhe faríamos nós e que conselhos nos dariam? Com que pretexto iríamos nós chamá-los à sua tumba, tocar-lhes no ombro (caso ainda o tivessem), arrancá-los do seu profundo sono? Com que justificação iriam eles interpor-se entre nós e a vida, sussurrar-nos um chamamento ao ouvido, impor-se neste mundo que deixou de ser deles?
Que maravilhas saberíamos? Que segredos nos revelariam? Quantas coisas perdidas seriam achadas? Quanto conhecimento morto ressuscitaria? Quanta nostalgia convidada seria expulsa?
Como seriam as Conversas entre mortos e vivos? Talvez assim...
(começa o morto)
“... é difícil a um vivo entender os mortos, Julgo que não será menos difícil a um morto entender os vivos, O morto tem a vantagem de já ter sido vivo, conhece todas as coisa deste e desse mundo, mas os vivos são incapazes de aprender a coisa fundamental e tirar proveito dela, Qual, Que se morre, Nós, vivos, sabemos que morreremos, Não sabem, ninguém sabe, como eu também não sabia quando vivi, o que nós sabemos, isso sim, é que os outros morrem, Para filosofia, parece-me insignificante, Claro que é insignificante, você nem sonha até que ponto tudo é insignificante visto do lado da morte, Mas eu estou do lado da vida, Então deve saber que coisas, desse lado, são significantes, se as há, Estar vivo é significante,”*
(começa o vivo)
“...Um dia você escreveu Neófito, não há morte, Estava enganado, há morte, Di-lo agora porque está morto, Não digo-o porque estive vivo, digo-o, sobretudo, porque nunca mais voltarei a estar vivo, se você é capaz de imaginar o que isso significa, não voltar a estar vivo...”*
Como seria maravilhoso, como o número de conversas possíveis se multiplicariam... Mas o que passaria a diferenciar vivos e mortos?
Quanto sábios voltariam para nos encaminhar e quantos criminosos para nos desencaminhar?
Num Mundo assim muitas perguntas seriam respondidas, mas muitas novas surgiriam... Seria realmente um mundo melhor? Não sei... mas lá que venderia a minha alma por uma hora de conversa com uma mãe cheia de pessoas que actualmente estão separadas de mim pelo abismo da morte, venderia...
By Sophia
* Excertos do Livro 'O Ano da Morte de Ricardo Reis' de José Saramago
É parte duma conversa entre Ricardo Reis e Fernando Pessoa, o "vivo" e o morto
“The sure redeeming feature
From that little creature
Is that she’s alive.
Overrated… Overblown…
Everybody know that’s just a temporary state,